quinta-feira, 14 de julho de 2011

Entrevista com a historiadora Ermínia Silva

Esteve presente no Anjos do Picadeiro a historiadora Ermínia Silva, filha de Barry Charles Silva e Edwirges P. Silva, quarta geração circense no Brasil. 

Em entrevista ao Jornal de Teatro, Ermínia analisa o papel do palhaço dentro da classe artística, além de explicar a situação atual do circo no Brasil e no mundo. Sua profissão possibilitou aprofundar pesquisas sob histórias do circo, no mestrado com a dissertação “O Circo: sua arte e seus saberes”, em 1996, e, sete anos depois, com a tese de doutorado “Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil”.

Existe palhaço de circo e palhaço de teatro?

Ermínia Silva – Existe. O palhaço de circo tem que ter, no conjunto de saberes dele, técnicas para trabalhar na lona, pois ele não pode desenvolver a mesma técnica do teatro italiano. A lona é um espaço vazado: de som, de iluminação... O público vai com uma proposta de comportamento diferenciado.

Quando o palhaço está em um teatro tipo italiano, tem que ter o mesmo conjunto, mas tem que saber trabalhar naquele lugar e para aquele público.

Na rua é outra pegada. O palhaço de rua tem que te pegar agora, senão você já foi. No teatro ele pode construir um contexto aos poucos. No circo, a pegada já é outra, não é tão rápida como na rua, porque o público está sentado para assistir, mas não é tão densa como no teatro.
  
Existe uma polêmica em relação à nomenclatura desses artistas. Afinal, o certo é palhaço ou clown?

ES – Na realidade há 30, 40 anos, ocorreu uma produção de circo para fora da lona. Foi quando começou a ter as escolas de circo e também produção autônoma de atores e artistas que decidiram se dedicar à arte circense.

Muitos deles começaram a freqüentar escolas de circo na Europa e as escolas do Brasil não eram consolidadas ainda. Lá, os artistas que se formavam começaram a dar cursos de palhaços. Como se trata de um país onde a língua inglesa predomina, é usada a palavra clown ao invés de palhaço. Os pupilos desses palhaços acabavam falando que não eram palhaços de lona e, sim, de teatro.

JT – Mas eles se julgam superiores?

ES – Havia, na universidade, uma orientação de que eles seriam o Novo Circo, como se nós fossemos o antigo e eles não tivessem nada a ver com o circo de lona. Como se fosse uma produção de chocadeira, sem herança, sem história...

Porém, ao mesmo tempo, eles acabam se vinculando a uma história européia novamente, por causa da relação que mantinham com esses formadores na Europa, que têm uma herança muito grande do circo. Então, esses “pupilos” ficam se referendando mais aos palhaços europeus, que são chamados de clown (porque é língua inglesa) para se diferenciar dos nossos palhaços. Eles dizem: “eles são palhaços de lona e nós somos clown, de teatro”. Hoje em dia nós temos um debate muito tenso e intenso sobre isso.

JT – Você acha que existe, atualmente, um reconhecimento maior do palhaço na classe artística?

ES – Acredito que dentro de um grupo de pessoas ele começa a ter uma faixa de penetrabilidade diferente de outros. A figura do palhaço sempre foi fundamental. Nos circos do Norte e do Nordeste do Brasil, por exemplo, se o palhaço não for bom não se estabelece. Ninguém vai ao circo para ver acrobacia. O público vai ver o palhaço. Por outro lado, existe toda uma formação contemporânea nisso, desses montes de grupos para fora da lona e da questão das escolas e dos projetos sociais, o que resultou em uma diminuição significativa da lona no mundo. Não tem terrenos, os terrenos são caros...

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